quinta-feira, 29 de abril de 2010

Protótipo português na Shell Eco Marathon







Veículo a hidrogénio do IST posto à prova na Alemanha


Um grupo de alunos de engenharia do Instituto Superior Técnico (IST) construiu um protótipo que vai participar na prova Shell Eco Marathon, a 6 e 7 de Maio, na Alemanha. Trata-se de um veículo movido a hidrogénio que, depois do 23º lugar na prova do ano passado, vai agora tentar um lugar nos dez primeiros, entre centenas de concorrentes.

O HidrogenIST – nome dado ao veículo construído pelos alunos do IST – é constituído por um chassis tubular em alumínio, com a configuração de um triciclo – duas rodas dianteiras e uma roda traseira direccional e motriz – e um motor controlado por um circuito electrónico desenhado por elementos do grupo.

O coordenador do projecto, António Miguel, que também é aluno do IST, salienta que a iniciativa é extremamente útil para os alunos, que assim conseguem aliar as componentes teóricas e prática. Além disso, trata-se de uma iniciativa que permite a participação dos alunos numa prova como a Shell Eco Marathon, em que o grande objectivo é construir e testar um veículo ecológico capaz de percorrer a máxima distância com o mínimo de combustível.

“A Shell Eco Marathon é uma prova em que o grande objectivo é construir um protótipo que faça o máximo de quilómetros com o mínimo de combustível. Podemos utilizar vários tipos de combustível – gasolina, gasóleo, energia solar ou hidrogénio”, disse.

100% amigo do ambiente

“Nós optámos pela célula de hidrogénio por se tratar de um combustível 100 por cento amigo do ambiente. A única coisa que sai do escape é agua”, acrescentou António Miguel, que falava à Lusa durante uma apresentação do veículo à imprensa, que os alunos do IST aproveitaram para fazer mais alguns testes ao HidrogenIST.

Para Sérgio Fernandes, responsável da Área de Hidrogénio da Air Liquide, líder mundial em gases para a indústria e para a saúde, a parceria com o IST também é vantajosa para a empresa francesa.

“Esta parceria, no fundo, projecta no futuro a possibilidade de utilização do hidrogénio como um novo combustível. Como tal, todos estes projectos, todas estas parcerias, permitem-nos tirar ilações quanto a uma aplicação mais massificada desta tecnologia”, concluiu.






Até 2020 10% dos carros serão eléctricos

INESC Porto quer massificar utilização de veículos amigos do ambiente e reduzir emissões de CO2
2010-04-27

Carlos Zorrinho, secretário Estado da Energia e Inovação garantiu ontem ao «Ciência Hoje» que em 2020, 10 por cento dos carros serão eléctricos.
O secretário de Estado afirmou, durante a cerimónia da assinatura de um contracto entre o Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores do Porto (INESC) e o Fundo de Apoio à Inovação (FAI) de um valor de 2,6 milhões de euros para o projecto REIVE, que a mobilidade eléctrica e as redes eléctricas inteligentes são “uma escolha forte” e uma “janela de oportunidade de liderança”.

O REIVE (Redes Eléctricas Inteligentes com Veículos Eléctricos) pretende “mudar o paradigma da mobilidade actual e contribuir para a redução das emissões de CO2 na atmosfera ao criar condições para uma efectiva massificação de veículos eléctricos e micro-geração”, garante o INESC.

João Peças Lopes, coordenador do projecto e director do INESC, afirmou ainda que “dentro de dois anos vamos desenvolver protótipos industriais para exportar e trazer riqueza a Portugal”.

Para tornar a produção mais eficiente vai ser desenvolvido “um laboratório de mobilidade eléctrica, que é um dos primeiros do mundo do seu género”.

Zorrinho salienta a importância de projectos como o REIVE para a competitividade nacional. O secretário de Estado explica que as energias renováveis “são uma escolha forte − criam emprego, reduzem a dependência energética, reduzem a importação e as emissões de CO2”.

O FAI apoia em 50 por cento os custos do projecto do INESC, que conta ainda com parceiros industriais como a REN, a EDP Distribuição, a EFACEC, a CONTAR, a Lógica e a Galp Energia.

Menos 500 milhões em combustíveis fósseis

Questionado pelo «Ciência Hoje» sobre os reflexos dos investimentos nas energias renováveis e sobre o Estratégia Nacional para a Energia, Zorrinho sublinha que todos os anos “Portugal importa menos 500 milhões de euros em combustíveis fósseis”, pelo facto de produzirmos energias renováveis.


O secretário de Estado afirmou ainda que “20 por cento da energia consumida em Portugal já advém das fontes renováveis” e acrescenta que a aposta “é aumentar”.

Líder tecnológico

As energias renováveis fazem parte de uma mudança estrutural da qual Portugal pode beneficiar. Fonte do INESC garante que com o REIVE “Portugal passa a ser líder tecnológico mundial em mobilidade eléctrica e redes eléctricas inteligentes”.

José Manuel Mendonça, presidente do INESC Porto, enaltece a contribuição do instituto e das universidades para a inovação do tecido económico e para aposta em I&D.

Também Zorrinho sublinha a aposta do Instituto nesta área e afirma que dentro de dez anos espera-se que dez por cento dos carros sejam eléctricos.

TMN lança primeiro “Eco-telemóvel”


O exclusivo recarrega com energia solar e tem cartão SIM reciclável

A operadora de telemóveis TMN está a lançar o Samsung Blue Earth – um novo telemóvel que se recarrega com energia solar, tem carregador ecológico cinco estrelas e um novo cartão SIM, o primeiro no Mundo fabricado com papel reciclável.

Ideal para utilizadores com preocupações ambientais, a recente tecnologia está concebida enquanto telefone ecológico para ter um impacto positivo sobre o meio ambiente. Inspirado pela natureza e desenhado para reflectir a beleza do Planeta Terra, possui um design ecológico com um extenso painel solar na parte traseira – projectado para transformar os raios de sol em fonte de alimentação da bateria.


É construído com acabamento em plástico reciclado de garrafas PET para a redução do consumo de combustível e emissões de carbono, sendo livre de substâncias prejudiciais. Destacam-se ainda as funções Eco-Walk, que permitem contar os passos de uma caminhada e calcular a redução de emissões de dióxido de carbono, dada a opção da caminhada em detrimento do uso de um transporte motorizado.

No Modo-Eco, o Samsung Blue Earth possibilita regular a luminosidade do ecrã, a duração da luz de fundo e o bluetooth com vista à poupança de energia. Tem também um Eco-Calendar, que permite aceder a informação acerca dos dias ecologicamente significativos.

No entanto, o Samsung Blue Earth reúne ainda outras características como: ecrã táctil de 3’’, câmara fotográfica de 3,2 Mpx, GPS, acesso 3,5G à Internet, push mail, Wi-Fi, Leitor de MP3 e Rádio FM, entre outras. Contudo, menos atractivos são os preços que oscilam entre 249,90 e os 239,90 euros.

2010-04-26 – CiênciaHoje.pt

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Nuclear em Portugal? Só se for em 2025

Director-geral de Energia lembra o tempo que demora a construir uma central
O director-geral de Energia afirmou este sábado que a energia nuclear não é uma opção para os próximos anos, entre outros argumentos pelo tempo que demora a construir uma central, escreve a Lusa.

«Se o país avançar com uma central nuclear, o prazo mais curto seria 2025», disse esta sexta-feira à noite José Perdigoto, para quem o nuclear não tem capacidade para resolver as necessidades energéticas do país para os próximos anos.

Além da demora da construção de uma central, o responsável diz que é preciso fazer um grande investimento na construção mas também posteriormente no seu desmantelamento, já que este obriga a encontrar soluções para os resíduos nucleares que resultam do seu funcionamento.

Essa é, na sua opinião, uma das razões que levam alguns países com centrais nucleares a prolongarem a vida destes equipamentos.

Para José Perdigoto, o país também não tem recursos nem tecnologias para alimentar uma central nuclear e sendo assim pergunta-se onde estão as vantagens em avançar com esta opção.

Mesmo assim, entende que o tema do nuclear deve ser debatido sem tabus e até assume que dentro de 20 ou 30 anos «há-de ser uma opção».

O director-geral de Energia esteve na freguesia de Meimão, concelho de Penamacor, a convite da assembleia municipal, que organizou uma sessão temática dedicada ao tema da energia.

IOL.PT – AMBIENTE - 17-04-2010

VAMOS TER DE CONVIVER COM A ENERGIA NUCLEAR»

«Ex-ministro do Ambiente quer que a matéria seja discutida

O antigo ministro do Ambiente e Recursos Naturais Carlos Borrego afirmou sexta-feira à noite, em Coimbra, que Portugal não está preparado para ter centrais nucleares, embora deva discutir a questão da energia nuclear, informa a Lusa.
«A energia nuclear deve ser discutida. Ambientalmente é uma energia crítica, mas vamos de ter de conviver com ela, no entanto, em Portugal, será muito difícil ter uma central nuclear», disse o professor de engenharia do ambiente num debate sobre «Sistemas energéticos sustentáveis».
Segundo o investigador da Universidade de Aveiro, «há 35 anos Portugal decidiu não ter nuclear, portanto não criou infra-estruturas humanas, de conhecimento e de formação de pessoas para tratar de assuntos tão complicados como o nuclear».


TVI24- 10-04-2010 10: 56

O DEBATE DA ENERGIA NUCLEAR

A discussão à volta da política energética voltou a animar nas últimas semanas depois da publicação do manifesto dos 22.

Os economistas, gestores e engenheiros colocaram a política energética do Governo em xeque, nomeadamente a aposta nas energias renováveis que tem custos para as contas públicas devido aos elevados subsídios às tarifas. Apesar de ter sido palavra tabu em todo o texto, o nuclear estava no subconsciente do manifesto. Hoje, em entrevista ao Diário Económico, o ministro Vieira da Silva responde à altura. Mas o debate veio para ficar. E ainda bem.
A questão energética é a mais importante que as economias desenvolvidas vão enfrentar nas próximas décadas. Em primeiro lugar, colocado um ponto final no intervalo para a crise, o preço dos combustíveis primários fósseis retomou a sua trajectória de subida e ninguém sabe onde vai parar. Em segundo lugar, as pressões ambientais ligadas à necessidade de inverter o aquecimento global obrigam à mudança do paradigma energético. Menos CO2 e mais verde é a nova máxima. Os carros eléctricos, que vão dominar as cidades em poucos anos, são uma das facetas mais visíveis dessa mudança.

Portugal tem tido a atitude correcta na área energética. Tem feito um esforço para estar na linha da frente.

Apostou fortemente nas energias renováveis, sobretudo eólicas, ao ponto de ser hoje um exemplo citado internacionalmente, e está a fazer um esforço para ser pioneiro nos carros eléctricos. Tendo em conta a dependência energética do país face ao exterior, nomeadamente nas energias fósseis, o que tem agravado o endividamento externo, não há outro caminho. Por isto, é difícil perceber a oportunidade do manifesto.

É verdade que as tarifas das eólicas são subsidiadas mas a alternativa passava pela ausência de investimento neste sector. E quantos sectores muito menos estratégicos para a economia também vivem de mão estendida para o Estado? Além disso, à medida que o preço do petróleo sobe, os subsídios ficam relativamente mais baixos. A grande crítica que deve ser feita ao Estado deve passar pela ausência de uma acção consistente de combate ao desperdício de energia. As ineficiências ainda são muito grandes e custam muitos milhares de milhões de euros.

Portanto, a única alternativa realista ao que tem sido feito passa pelo nuclear, até porque o desenvolvimento dos carros eléctricos vai colocar uma pressão maior sobre a rede eléctrica para garantir um fornecimento mais forte e constante, o que as eólicas não conseguem. No entanto, a energia nuclear defronta um adversário de peso: a rejeição social. Alguém aceita tranquilamente ter uma central no seu bairro ou na sua cidade? Relembre-se a novela trágica da co-incineração e tem-se uma imagem do tipo de manifestações que podem encher o país.

19/04/10 00:05 Bruno Proença – Diário Económico

APRESENTADO MANIFESTO CONTRA POLÍTICA ENERGÉTICA ASSENTE NAS RENOVÁVEIS

Um grupo de empresários, economistas e engenheiros - alguns deles defensores de uma opção nuclear em Portugal – apresentaram a 7 de Abril de 2010 um manifesto que visa uma nova política energética e que se assume contra a opção das renováveis.

Os signatários deste manifesto, que consideram essencial «que as empresas disponham de energia a preços internacionalmente competitivos», sublinham que a actual política energética seguida pelo governo de José Sócrates «tem vindo a ser dominada por decisões que se traduzem pela promoção sistemática de formas de energia 'politicamente correctas', como a eólica e a fotovoltaica».
Estas formas de produção de energia, frisam os mesmos signatários, «apenas sobrevivem graças a imposições de carácter administrativo que garantem a venda de toda a produção à rede eléctrica a preços injustificadamente elevados», sendo «os consumidores a suportar os sobrecustos».
«Os efeitos da actual política energética [...] são particularmente graves, pois perdurarão negativamente mesmo que sejam eliminados os outros factores de atraso económico e condicionará qualquer possibilidade de atracção de investimento, seja ele nacional ou estrangeiro», adiantam ainda.
A apresentar o documento estarão Francisco Van Zeller, Luís Mira Amaral, Clemente Pedro Nunes e José Luís Pinto de Sá.
Francisco Van Zeller e Mira Amaral têm defendido que Portugal deve considerar a hipótese de entrar num projecto de energia nuclear em parceria com Espanha, que já centrais nucleares.
Também o professor catedrático do Instituto Superior Técnico (IST) Clemente Pedro Nunes é um defensor da energia nuclear, tendo defendido essa opção em conferências sobre o tema.
Para Clemente Pedro Nunes a «no leque das oportunidades de diversificação competitiva futura incluem-se a biomassa, a hidroeléctrica, a eólica, e sobretudo o nuclear».
Já o engenheiro e também professor do IST José Luís Pinto de Sá defende num texto publicado no site do Instituto Francisco Sá Carneiro que é «evidente a necessidade de Portugal considerar seriamente a opção nuclear como estratégia energética e económica, dada a sua controlabilidade, não emissão de CO2 e baixo custo da energia gerada».
Para o professor, «não se trata, porém, e no imediato, de considerar a compra de uma central nuclear, com a mesma irresponsabilidade e ausência de planeamento com que foi feita a importação de equipamentos de energias renováveis, mas sim e apenas de iniciar a preparação de uma possível futura opção nesse sentido».
Além das quatro individualidades que vão apresentar o manifesto, o documento é ainda assinado por nomes como Pedro Sampaio Nunes - consultor do empresário Patrick Monteiro de Barros no projecto da construção de uma central nuclear em Portugal - e Augusto Barroso, o presidente da Sociedade Portuguesa de Física e investigador na área da Física das Partículas e Altas Energias.
Os mentores da iniciativa garantem que o manifesto não visa discutir a opção do nuclear, mas sim repensar a estratégia das renováveis.
O documento foi já criticado pelo secretário de Estado da Energia, Carlos Zorrinho, considerando que ele configura um «regresso ao passado».
Lusa / SOL

domingo, 25 de abril de 2010

Nuclear. O que é?


A produção de energia nuclear consiste na divisão de um átomo, usando materiais altamente radioactivos, como o urânio.

A energia nuclear provém da fissão nuclear do urânio, do plutónio ou do tório. Esta energia pode, ainda, ser gerada através da fusão nuclear do hidrogénio.


A energia é libertada do núcleo dos átomos quando estes, através de processos artificiais, são levados para condições instáveis. Estes processos podem conduzir à criação de energia térmica, mecânica, de radiação, constituindo-se uma única energia primária que tem essa diversidade na Terra.

Como fonte térmica de energia primária, o nuclear foi estudado para aplicação na propulsão de navios militares e comerciais, produção de vapor industrial, aquecimento ambiental e dessalinização da água do mar. Apesar da polémica que se gera à volta do nuclear, cerca de 18% das necessidades mundiais de electricidade são satisfeitas por esta via.

Nuclear e ambiente
Foi durante a Segunda Guerra Mundial que a energia nuclear mostrou o seu potencial para causar dano. Embora suscite sempre opiniões contraditórias, esta fonte energética traz benefícios para a sociedade, nomeadamente devido às suas aplicações na medicina, indústria, agropecuária ou ambiente.

Os acidentes ambientais dizem respeito a acidentes relatados pela História e com o fim dado ao lixo atómico. Os resíduos ficam no reactor, onde ocorre a queima de urânio ou a fissão do átomo.


Estes resíduos apresentam níveis bastante altos de radiação, pelo que têm de ser armazenados em recipientes metálicos bem protegidos por caixas de concreto, que são posteriormente lançados ao mar.

Os acidentes acontecem quando existe libertação de material radioactivo do reactor, levando à contaminação do ambiente. Como consequência destes acidentes, podem surgir doenças como cancros, levando à morte de seres humanos, vegetação e animais. Estas repercussões não se verificam apenas junto à central, mas podem ocorrer, também, a centenas de quilómetros.

terça-feira, 13 de abril de 2010

O menino que domou o vento

Aqui segue uma reportagem de uma jornalista brasileira, que falo sobre um rapaz africano que contruiu um moinha que gera energia eólica.

O menino que domou o vento

Com dois livros de física elementar, um monte de lixo e a energia eólica, jovem abastece lâmpadas e celulares em sua vila no interior da África


FORÇA AÉREA: William Kamkwamba mostra a instalação que carrega celulares e acende luzes em Malauí, na África


Escondido entre Zâmbia,Tanzânia e Moçambique, o Malauí é um país ruralcom15 milhões de habitantes. A três horas de carro da capital Lilongwe, a vila de Wimbe vê um garoto de 14 anos juntando entulho e madeira perto de casa. Até aí, novidade nenhuma para os moradores. A aparente brincadeira fica séria quando, dois meses depois, o menino ergue uma torre de cinco metros de altura. Roda de bicicleta, peças de trator e canos de plástico se conectam no alto da estrutura e, de repente, o vento gira as pás. Ele conecta um fio, e uma lâmpada é acesa. O menino acaba de criar eletricidade.

O menino e a importância de suas descobertas cresceram. William Kamkwamba, agora com 22 anos, já foi convidado para talk shows, deu palestras no Fórum Econômico Mundial, tem site oficial, uma autobiografia - The Boy Who Harnessed the Wind (O Menino que Domou o Vento, ainda inédito no Brasil) - e um documentário a caminho. O pontapé de tamanho sucesso se deve a uma junção de miséria, dedicação, senso de oportunidade e uma oferta generosa de lixo.


EM TERMOS DE GERAÇÃO e consumo de energia elétrica, o Malauí é o 138º país do mundo


Uma seca terrível no ano 2000 deixou grande parte da população do Malauí em situação desesperadora. Com as colheitas reduzidas drasticamente, as pessoas começaram a passar fome. "Meus familiares e vizinhos foram forçados a cavar o chão pra achar raízes, cascas de banana ou qualquer outra coisa pra forrar o estômago", diz Kamkwamba. A miséria o impediu de continuar na escola, que exigia a taxa anual de US$ 80. Se seguisse a lógica que vitima muitos rapazes na mesma situação, o destino dele estava definido: "Se você não está na escola, vai virar um fazendeiro. E um fazendeiro não controla a própria vida; ele depende do sol e da chuva, do preço da semente e do fertilizante" , diz Kamkwamba.

Para escapar dessa sentença, começou a frequentar uma biblioteca comunitária a 2 km de sua casa. No meio de três estantes com livros doados pelo Reino Unido, EUA, Zâmbia e Zimbábue, Kamkwamba encontrou obras de ciências. Em particular, duas de física. A primeira explicava como funcionam motores e geradores. "Eu não entendia inglês muito bem, então associava palavras e imagens e aprendi física básica." O outro livro se chamava Usando Energia, tinha moinhos na capa e afirmava que eles podiam bombear água e gerar eletricidade. "Bombear um poço significava irrigar, e meu pai podia ter duas colheitas por ano. Nunca mais passaríamos fome! Então decidi construir um daqueles moinhos."

Você está fumando muita maconha. Tá ficando maluco." Era isso que Kamkwamba ouvia enquanto carregava sucata e canos para seu projeto. "Não consegui encontrar todas as peças para uma bomba d'água, então passei a produzir um moinho que gerasse eletricidade. " Seu primo Geoffrey e seu amigo Gilbert o ajudaram, e após dois meses as pás giravam. O gerador era um dínamo de bicicleta que produzia 12 volts, suficientes para acender uma lâmpada. As pessoas próximas a ele só acreditaram em sua conquista quando ele ligou um rádio, que na hora tocou reggae nacional. "Fiquei muito feliz. Finalmente as pessoas reconheceram que eu não estava louco."


"Conseguimos energia para quatro lâmpadas, e as pessoas começaram a vir carregar seus celulares", diz. No Malauí, a companhia telefônica se recusou a fornecer infraestrutura para as vilas, e as empresas de celulares chegaram com torres de transmissão e baratearam os aparelhos. Por isso, hoje há mais de um milhão de aparelhos celulares no país, uma média de oito para cada cem habitantes.

NOVAS MEDIDAS: o primeiro moinho ganhou altura ( 12 metros ) e potência

"Bombear um poço significava irrigar. meu pai podia ter duas colheitas por ano. Nunca mais passaríamos fome! Então decidi construir um daqueles moinhos."


A história chegou aos ouvidos do diretor da ONG que mantinha a biblioteca. Ele trouxe a imprensa, e o menino foi destaque no jornal local. E daí alcançou o diretor do programa TEDGlobal, uma organização que divulga ideias criativas e inovadoras que convidou Kamkwamba para uma conferência na Tanzânia. O jovem aumentou o primeiro moinho para 12 metros de altura e construiu outro que bombeia água para irrigação. "Agora posso ler à noite, e minha família pode irrigar a plantação", diz.

Depois de cinco anos, com ajuda daqueles que descobriram sua história, Kamkwamba voltou à escola. Passou por duas instituições no Malauí, estudou durante as férias no Reino Unido e agora cursa o segundo ano da African Leadership Academy, instituição em Johannesburgo que reúne estudantes de 42 países com o intuito de formar a próxima leva de líderes da África.

Apesar de não ter mudado em nada a sua humildade, o sucesso e as oportunidades de estudo tornaram mais ambiciosos os planos de Kamkuamba: "Quero voltar ao Malauí e botar energia barata e renovável nas vilas. E implementar bombas d'água em todas as cidades. Em vez de esperar o governo trazer a eletricidade, vamos construir moinhos de vento e fazê-la nós mesmos".

Escrito por William Kamkwamba em conjunto com o jornalista Bryan Mealer, The Boy Who Harnessed the Wind foi lançado em 29 de setembro nos EUA e ficou entre os dez mais da livraria virtual Amazon

ENTREVISTA


Conversamos com William Kamkwamba, o menino africano que construiu um moinho com lixo e dois livros de física
Ricardo santos // Foto: Tom Rielly


* Conte-me um pouco sobre você, William. Quando você nasceu, onde foi, como é sua família?


Nasci em 5 de agosto de 1987 em Dowa, no Malauí. Moro com seis irmãs, meu pai e minha mãe. Em uma família de garotas, você pode imaginar os problemas por que passei. Na escola, os garotos sempre implicavam comigo porque eu não tinha um irmão mais velho que me protegesse. De qualquer jeito, sobrevivi.

* Como é sua vida na vila onde mora, como são as condições de água, eletricidade. ..?

Moro na vila de Wimbe. É um lugar pequeno com uma grande estrada empoeirada e algumas lojas. Chamamos de Centro de Comércio. Há o barbeiro, o soldador, vários armazéns que vendem roupas e uma loja Farmer’s World, onde meu pai compra milho para plantar e fertilizante. Seguindo essa estrada, há a minha vizinhança, Masitala. A cidade grande mais próxima é Kasungu, com muitos habitantes, um grande supermercado e várias lojas. Para chegar até lá, tem que ir de carona, espremido por uma hora na caçamba de um caminhão. Só 2% da população rural do Malauí tem eletricidade e isso é um grande problema. E antes de eu conseguir perfurar um poço e providenciar água limpa para minha família, não havia água corrente por quase 100 km .

* Em 2000, o Malauí passou por uma seca terrível. Foi por isso que você teve de deixar a escola em 2002?

Sim. Essa seca fez faltar alimento em todo o país. Ninguém conseguia plantar o suficiente para comer. As pessoas começaram a passar fome. Muitos moradores aqui perto de Wimbe morreram de inanição. Causou a morte de mais de 10 mil malauianos. Meus vizinhos e minha família fomos forçados a cavar o solo para achar raízes e cascas de banana, qualquer coisa para forrar o estômago. A taxa para minha escola era 80 dólares por ano. Por causa da situação, meu pai não conseguia pagar, tive que parar de estudar com 14 anos.

* Como você se sentiu por estar fora da escola?

Era bem ruim. Se você não está estudando, quer dizer que vai ser fazendeiro. Eles não controlam a própria vida; dependem do sol, da chuva, do preço das sementes e do fertilizante. Quando saí da escola, olhei meu pai, aqueles campos ressecados e vi o resto de minha vida. Era um futuro que não podia aceitar.

* Foi aí que você começou a frequentar uma biblioteca perto da sua casa?

Sim. Era um lugar bem pequeno dentro de minha escola primária, a uns dois km de casa. Eu geralmente caminhava, ou ia de bicicleta. A biblioteca tinha três estantes cheias de livros doados pelos EUA, Reino Unido, Zâmbia e Zimbábue. Fui com a esperança de estudar por conta própria, para ficar no mesmo nível dos amigos que continuaram na escola. Comecei a ler livros de ciência, e isso mudou minha vida.

* Você construiu um moinho de vento a partir das explicações de um livro, sem nunca ter visto um. Como foi isso, e para que você queria um moinho?

No livro, “Explaining Physics”, entendi como funcionavam motores e geradores. Não lia inglês muito bem. Usei diagramas e fotos para associar as palavras, e assim aprender física básica. O outro livro que li chamava-se “Using energy”, tinha uma foto de um moinho de vento na capa. Dizia que moinhos podem bombear água e gerar eletricidade. Meu pai poderia irrigar a plantação, aumentar a colheita e nós nunca mais passaríamos fome! Por isso decidi construir um moinho. Não havia instruções, mas sabia que se um homem havia construído no livro, eu também conseguiria.

* Como você fez para arranjar as peças? Quanto tempo levou?

Fui a um ferro-velho perto de casa e encontrei vários pedaços de metal e uns canos de plástico. Mas vi que não tinha todas as peças para uma bomba-d’água, então procurei fazer um moinho que gerasse eletricidade. Quando me viam carregando os ferros, as pessoas achavam que eu estava louco. Me provocavam e diziam que eu estava fumando maconha. Mas não deixei que isso me incomodasse. Continuei. Meu primo, Geoffrey, e outro amigo, Gilbert, me ajudaram a construir. Ficou pronto em dois meses. Quando o vi funcionando, fiquei muito feliz. Finalmente as pessoas sabiam que eu não estava louco.

* Quanta energia gerava o moinho?

O gerador do moinho era um dínamo de bicicleta, produzia 12 volts. Era suficiente para acender uma lâmpada. Mais tarde, meu primo achou uma bateria de carro na estrada. Demos uma carga nela, e conseguimos energia para manter quatro lâmpadas e dois rádios. As pessoas faziam fila para carregar seus celulares. Os celulares estão em todo o lugar na África porque são baratos. Há poucos lugares onde a eletricidade chega - geralmente nos arredores das empresas estatais de tabaco - e algumas lojas cobram para as pessoas carregarem os celulares. Comigo era grátis.

* Depois que sua história se espalhou, você voltou a estudar. Como estão seus estudos?

Depois que eu fui à conferência do TED [organização sem fins lucrativos que promove conferências anuais para divulgar boas idéias] em Arusha, na Tanzânia, algumas pessoas se aproximaram e me ofereceram ajuda para voltar à escola. Primeiro frequentei um colégio cristão na capital. Agora estudo em Johannesburgo, na África do Sul, na African Leadership Academy, uma escola que pretende treinar a próxima geração de líderes do continente. Há 200 estudantes de 42 países diferentes da África.

* Agora que você viu que seu moinho não só ajudou sua família, mas gerou esperança em cima de energia elétrica e renovável, quais são seus próximos planos?

Depois de fazer faculdade, talvez nos EUA, quero voltar ao Malauí e descobrir maneiras de produzir energia barata e renovável nas vilas. Quero construir bombas-d’água de baixo custo e que possam ser operadas facilmente. E também colocar um moinho de vento em cada cidade do Malauí. Quando a companhia estatal de telefones se recusou a atender às vilas, as empresas particulares de telefonia celular chegaram com torres e agora todos têm celulares. Nós simplesmente passamos por cima dessas companhias ineficientes. Espero fazer o mesmo com a energia no Malauí. Em vez de esperar o governo levar eletricidade até as vilas por linhas de força, vamos construir moinhos de vento e gerá-la nós mesmos.

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Sandra Mexia de Brito Cardão