segunda-feira, 26 de abril de 2010

O DEBATE DA ENERGIA NUCLEAR

A discussão à volta da política energética voltou a animar nas últimas semanas depois da publicação do manifesto dos 22.

Os economistas, gestores e engenheiros colocaram a política energética do Governo em xeque, nomeadamente a aposta nas energias renováveis que tem custos para as contas públicas devido aos elevados subsídios às tarifas. Apesar de ter sido palavra tabu em todo o texto, o nuclear estava no subconsciente do manifesto. Hoje, em entrevista ao Diário Económico, o ministro Vieira da Silva responde à altura. Mas o debate veio para ficar. E ainda bem.
A questão energética é a mais importante que as economias desenvolvidas vão enfrentar nas próximas décadas. Em primeiro lugar, colocado um ponto final no intervalo para a crise, o preço dos combustíveis primários fósseis retomou a sua trajectória de subida e ninguém sabe onde vai parar. Em segundo lugar, as pressões ambientais ligadas à necessidade de inverter o aquecimento global obrigam à mudança do paradigma energético. Menos CO2 e mais verde é a nova máxima. Os carros eléctricos, que vão dominar as cidades em poucos anos, são uma das facetas mais visíveis dessa mudança.

Portugal tem tido a atitude correcta na área energética. Tem feito um esforço para estar na linha da frente.

Apostou fortemente nas energias renováveis, sobretudo eólicas, ao ponto de ser hoje um exemplo citado internacionalmente, e está a fazer um esforço para ser pioneiro nos carros eléctricos. Tendo em conta a dependência energética do país face ao exterior, nomeadamente nas energias fósseis, o que tem agravado o endividamento externo, não há outro caminho. Por isto, é difícil perceber a oportunidade do manifesto.

É verdade que as tarifas das eólicas são subsidiadas mas a alternativa passava pela ausência de investimento neste sector. E quantos sectores muito menos estratégicos para a economia também vivem de mão estendida para o Estado? Além disso, à medida que o preço do petróleo sobe, os subsídios ficam relativamente mais baixos. A grande crítica que deve ser feita ao Estado deve passar pela ausência de uma acção consistente de combate ao desperdício de energia. As ineficiências ainda são muito grandes e custam muitos milhares de milhões de euros.

Portanto, a única alternativa realista ao que tem sido feito passa pelo nuclear, até porque o desenvolvimento dos carros eléctricos vai colocar uma pressão maior sobre a rede eléctrica para garantir um fornecimento mais forte e constante, o que as eólicas não conseguem. No entanto, a energia nuclear defronta um adversário de peso: a rejeição social. Alguém aceita tranquilamente ter uma central no seu bairro ou na sua cidade? Relembre-se a novela trágica da co-incineração e tem-se uma imagem do tipo de manifestações que podem encher o país.

19/04/10 00:05 Bruno Proença – Diário Económico

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